sexta-feira, 23 de outubro de 2009

TENHO VERGONHA DE MIM ( Rui Barbosa) 1914


Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil.
Sinto vergonha de mim por ter ,
feito parte
de uma era que lutou pela democracia
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-máter da sociedade,
a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade" em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade para reconhecer o erro cometido,
a tanto "floreio" para justificar atos criminosos,
a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre,
contestar, voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo,
que não reconheço,
enveredando por caminhos que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usarei a minha Bandeira para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
POVO BRASILEIRO!

" DE TANTO VER TRIUNFAR AS NULIDADES,
DE TANTO VER PROSPERAR A DESONRA,
DE TANTO VER CRESCER A INJUSTIÇA,
DE TANTO VER AGIGANTAREM-SE OS PODERES NAS MÃOS DOS MAUS,
O HOMEM CHEGA A DESANIMAR DA VIRTUDE,
E RIR-SE DA HONRA E TER VERGONHA DE SER HONESTO".

Um comentário:

  1. Que belo poema, Tânia. Brava. Bravísima ! O poema de Rui Barbosa traduz toda a indignação de todos aqueles que por serem honestos, cumpridores de seus deveres, tralhadores e trabalhadeiras cheias de propósitos e ideais, sobretudo as educadoras, se sentem impotentes diante de todo um sistema truculento, por não lhe conferirem o direito de cumprir sua sublime missão com dignidade, a de formar e edificar os futuros cidadãos,em sua maioria pertencentes a uma classe desfavorecida, tornando um verdadeiro desafio para o mestre, que tanto tem a oferecer.
    Adorei seu espaço Tânia, e por todo seu precioso conteúdo, serei mais uma seguidora.
    Obrigada pela postagem.
    Muitos beijos.

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